Se o sofrimento fosse um estado, a Somália seria o seu parceiro número um. Depois da grave fome de 1991-1992, tendo morrido 300 mil pessoas, a ONU declara, oficialmente, o estado de fome em duas regiões do sul da Somália - Bakool e Baixa Shabelle - onde vivem 3.7 milhões de pessoas, quase metade da população somali. A adicionar a estes cidadãos africanos, mais 9 milhões em todo o Corno de África correm o risco de perecer perante a fome demoníaca. Procuram o "estatuto" de refugiados em campos altamente lotados, tanto na Etiópia como no Quénia. O al-Shabaab, "a juventude", dificulta as operações humanitárias, intitulando os funcionários internacionais de "cruzados" e "espiões do ocidente".
Convém refletir. Os grupos insurrecionais somalis podem tirar partido da ajuda humanitária internacional. Em primeiro lugar, é uma forma de garantir o abrandamento dos ataques norte-americanos, executados maioritariamente por drones, aos líderes rebeldes. Não faria sentido, simultaneamente, acordar a ajuda e executar operações seletivas, com força letal, contra dirigentes rebeldes. Portanto, esta crise humanitária providencia um escudo temporário aos aliados da al-Qaeda naquela região. Por outro lado, a fome estimula o sistema de subornos, matéria que os insurretos vão explorar. Isto é, a crise pode servir de fonte de rendimento para estes grupos. Ainda a acrescentar, alguns destes bens alimentares podem ser desviados e usados para atrair indivíduos.
O inferno existe na terra, sempre que as vidas são vidas mortas, vidas sem cor, vidas despidas dos sentidos simples que arrancam sorrisos. Parece que os homens são gente em muitos mundos e em cada um o destino faz um jogo diferente, deixa mundos que são um jogo de facas e sofrimento. E a carne derrete em vida como se nada houvesse que lhe fizesse importar a existência.
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