quinta-feira, 18 de março de 2010

ETA e o "Comando de Resgate"


ETA apresenta novo modus operandi. Este modelo foi aplicado na noite de terça feira quando a polícia francesa interceptou um grupo de presumíveis etarras. Já com os suspeitos algemados, surgiu um "comando de resgate", transportado em dois carros de alta cilindrada, que disparou à queima-roupa sobre os quatro agentes de autoridade em Damamarie Les-Lyes.

A primeira diferença reside no modo de roubo e na escolha dos veículos furtados. Até ao momento, os etarras roubavam em povoações secundárias veículos menos potentes, um de cada vez, que constavam como mais um furto nas listas policiais. Em Damamarie, os etarras sequestraram em casa o gerente de um stand de automóveis, levaram-no às instalações e escolheram 6 BMW topo de gama, não habituais nos seus roubos (o objectivo habitual é passar despercebido).

A segunda diferença é a capacidade de resgate, usando o factor surpresa e disparos indiscriminados - o que a ETA nunca tinha feito. Aliás, no final da última trégua, a organização pôs de lado cometer atentados em França por temer a resposta da polícia.

Estas alterações na forma de actuar levam alguns investigadores a admitir que um grupo tão numeroso de etarras - os comandos são constituídos por 3 ou 4 elementos - tinha em agenda uma operação em território francês.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Métodos e Alvos do I.R.A.


Os métodos utilizados pelo IRA variam entre guerrilha e terrorismo, sendo este último frequentemente mais utilizado. É de salientar que, no final dos anos 70, dada a sua orgânica vulnerável, o IRA abandonou a organização regular para privilegiar uma estrutura mais móvel e celular, adaptada à luta urbana. Nas zonas fronteiriças e rurais o IRA prefere a guerrilha recorrendo a emboscadas contra patrulhas, tiros de sniper, ataques com morteiros, minas, lança-granadas foguete (RPG´s.) Por outro lado, nas zonas urbanas são utilizados ataques à bomba, disparos à “queima-roupa”, cartas e encomendas com dispositivos explosivos, ameaças falsas, ameaças de morte.

Como exemplos de guerrilha: fevereiro de 1997, tiro de sniper matou soldado britânico perto da base militar de Bessbrook, Armagh; julho de 1998, ataque de morteiro à base da Policia Real de Ulster em County Down.

Relativamente ao terrorismo devemos distinguir os muitos métodos usados:


  1. Ameaças falsas. Junho de 1999 - Continuity IRA fez uma ameaça falsa de bomba em Armagh em hora de ponta gerando o caos; novembro de 2005 - Real IRA fez uma ameaça de bomba falsa no Down Royal Racecourse em County Down. O alerta interrompeu o festival de corridas de cavalos levando à evacuação de 9000 pessoas.

  2. Ameaças de Morte. Dezembro 2009 - Willie Frazer, protestante e líder de grupos pró-unionistas (Love Ulster e Families acting for innocent relatives) recebeu um postal de natal com duas balas.

  3. Disparos à "queima-roupa". 7 Março de 2009 - ataque na base militar de Massereene, Antrim. Morreram dois soldados britânicos e quatro pessoas ficaram feridas; 9 de Março de 2009 - Continuity IRA matou um polícia depois de este ter atendido uma chamada de emergência. Quando chegou ao local foi baleado pelo vidro traseiro.

  4. Ataques à Bomba. Agosto de 1998 - Real IRA fez explodir carro bomba em Omagh provocando 29 mortos (na imagem); junho de 2000 - Real IRA fez explodir uma bomba na linha férrea que liga Dublin a Belfast; maio de 2008 - bomba aplicada sob um carro da polícia. O agente foi retirado do veículo antes de este ser envolvido pelas chamas.

Não devemos esquecer as acções do IRA no estrangeiro. Nos anos 80 devido à eficácia da contra-subversão no Ulster, o IRA atacou tropas britânicas estacionadas na Bélgica, Holanda e Alemanha. Tinha como objectivo denegrir a imagem da Grã-Bretanha no estrangeiro, provocar o aumento do esforço económico britânico no conflito e pressionar a opinião pública britânica no sentido de resolver o problema pressionando o governo.

Finalmente os alvos. Essencialmente o IRA ataca polícias, forças militares britânicas, serviços secretos, políticos e juízes. É de salientar que as forças britânicas prestam especial atenção às centrais eléctricas, docas e terminais de petróleo, bem como importantes postos de observação urbanos.

sábado, 13 de março de 2010

Do Regular para o Irregular

As Guerras do nosso tempo têm seguido uma tendência. Fazem acreditar que o modelo pós-Vestefália, opondo Estado contra Estado, já pertence ao domínio da história.

As Guerras já não obedecem apenas à concepção clausewitziana (Estado, Forças Armadas, População), hoje a violência global é assimétrica e permanente, não tem uma origem clara e pode surgir em qualquer lugar. Posto isto, verifica-se a passagem de um modelo regular para um irregular.
Este método apresenta, naturalmente, novos actores e influências - guerrilhas, crime organizado, terrorismo, tribalismo. Muitos especialistas consideram que este fenómeno se assemelha à era medieval. Ora vejamos, na história existiram estruturas tribais, feudais, religiosas, comerciais e bandos de mercenários que, apesar de não terem soberania, faziam a guerra. Desta forma, concepcionou-se o Neo-medievalismo, onde o Estado perde o uso exclusivo da força.

Outras tendências marcam o sistema irregular. Os teatros de operações tendem a ser urbanos, os indivíduos lutam sem uniforme, misturam-se com a população e usam-na, muitas vezes, como escudo ou moeda de troca. Estes combatentes têm objectivos fluidos, não respeitam limites territoriais dificultando a localização da frente.
O futuro é difícil de prever, mas podemos assinalar algumas tendências. Dificilmente haverá um combate directo entre duas potências. Continuarão a proliferar os conflitos irregulares que colocarão Estados contra milícias, exércitos rebeldes, movimentos independentistas, organizações terroristas e criminosas. É de assinalar que em ambas as tipologias, regular e irregular, a superioridade no acesso e tratamento da informação é determinante.

Para terminar ficam no ar, para reflectir, dois aspectos fundamentais para as guerras do futuro:
-Revolução Militar em Curso
-Empresas Militares Privadas

quarta-feira, 10 de março de 2010

Revolução Militar, quando?

A introdução da pólvora na arte de combater é, para muitos especialistas, o grande objecto de estudo na Revolução Militar. Tenho de concordar que é um momento chave no estudo da guerra, mas não é tão importante ao ponto de ser designado por "revolução". Na minha opinião, trata-se de uma simples evolução tendo em conta a tecnologia da época. Aconteceu naturalmente, pois a tecnologia caminha a par do armamento.

Se atentarmos à evolução das armas, reparamos que estas nunca se mantiveram constantes. Ora vejamos: o Casco (protecção de cabeça) atingiu o seu ponto de maior evolução com o Bacinete (presente na imagem), no entanto este entrou noutro processo evolutivo atingindo o Chapéu de Armas.

A arquitectura militar também deve ser trazida para esta discussão. Se repararmos nos castelos medievais, verificamos que houveram vários picos de evolução - Castelo Roqueiro, Românico, Gótico e Abaluartado. Fica para outro post a explicação de cada um deles, mas o que eu quero dizer com isto é que na arte de guerra sempre que o militar sente que existem melhoramentos a fazer, executa-os. Isto acontece naturalmente, a engenharia vai buscar vários elementos e coloca-os à disposição do militar. O que não seria normal, era descobrir a pólvora e as suas capacidade explosivas e não a adaptar ao uso na guerra.

Para concluir, para ser uma potência é necessária uma investigação constante. Muitas das tecnologias de ponta são direccionadas, em primeiro lugar, para a aplicação militar. Sempre foi, e sempre será assim.

terça-feira, 9 de março de 2010

EXÉRCITO ROMANO (part.3), Dispositivos Tácticos

Neste post falarei dos modelos tácticos romanos descritos por Vegécio, nos finais do séc. IV d.C.

Em primeiro lugar, a Formação em Rectângulo (primeira imagem) era muito comum, mas Vegécio não a considerava a melhor pois o terreno nunca era uniforme e corria-se o risco de ser envolvido pelos flancos. Assim, esta táctica era boa quando se tinha muitos e bons militares, podia-se cercar e esmagar o inimigo.

Por vezes, quando o exército se dispunha em linha recta, apoiava um dos seus flancos numa defesa natural (rio, lago, escarpa, monte, ou até uma cidade). Nesta táctica, toda a cavalaria e infantaria ligeira acentava no flanco que não tinha protecção natural.

Na segunda imagem, apresento a Az Oblíqua a incidir pela direita. No momento do contacto, o general afastava a sua ala esquerda da ala direita do inimigo e atacava a ala esquerda adversária (habitualmente a mais fraca) com a sua ala direita, tentando cercá-lo e alcançar a sua rectaguarda.

Este modelo também podia ser usado em simetria. Ou seja, em vez de atacar a ala esquerda inimiga, atacava-se a direita. Isto acontecia quando se sabia que esta ala era particularmente mais fraca.

Ainda baseado nesta táctica, os romano faziam um dispositivo em espeto, em que a ala esquerda do exército romano alongava em linha recta e mantinha-se afastada da ala direita inimiga. Este modelo era o preferido de Vegécio, pois o adversário via-se impossibilitado de socorrer o seu flanco esquerdo, tanto a partir do seu lado direito como do meio da formação, devido ao recuo projectado pela az romana.

Finalmente, o dispositivo da Batalha de Ilipa usado por Cipião, o Africano. Consistia em, a 600-750m do adversário, lançar as alas repentinamente (colocando em fuga os flancos desprevinidos do adversário) e reter o centro (fixando o centro do adversário impedindo-o de socorrer as suas alas). Este modelo permitia a vitória rápida mas era muito arriscado, segundo Vegécio, desguarnecia bastante o centro e, caso o inimigo não fosse logo vencido, podia atacar os flancos romanos divididos e o centro desprotegido.

Posto isto, reforçou-se o centro com infantaria ligeira com arqueiros, assim caso o inimigo não quebrasse durante o ataque aos flancos, pelo menos o risco de um contra-ataque sobre o centro ficava diminuído.

segunda-feira, 8 de março de 2010

EXÉRCITO ROMANO (part.2), armamento ofensivo

Nesta segunda parte falarei, resumidamente, do equipamento ofensivo dos legionários romanos, individual e colectivo.


A gladius (presente na imagem) era de origem hispânica e foi sabiamente aproveitada pelos romanos. Era uma arma de estoque fabulosa, embora também pudesse ser usada como arma de corte lateral, pois tinha uma lâmina robusta com duplo gume. Era usada do lado direito (excepto porta-estandartes e centuriões) para evitar que o militar movesse o escudo que segurava com a mão esquerda. Era fabricado em ferro ou em aço de alta qualidade. O pomo podia ser de madeira ou marfim.


O Punhal, de origem ibérica, era a arma mais pessoal do legionário, símbolo de poder, prestígio e autoridade. Frequentemente, utilizavam-no para exterminar o adversário ferido. Era usado do lado esquerdo, podia atingir os 35cm de comprimento e a sua lâmina tinha a forma de folha larga.


O Pilum, de origem romana, era um dardo de arremesso composto por uma longa haste de ferro ligada a um cabo de madeira e munida de uma ponta afilada em forma de pirâmide. Tinha 2m de comprimento e um alcance útil de 12m a 14m. Quando bem arremessado, podia trespassar escudos e lorigas. No entanto, tinha um ponto fraco - velocidade de voo. O adversário podia esquivar-se, capturar o Pilum e lançá-lo de volta. Posto isto, ele foi redesenhado de maneira a encurvar no momento do impacto.


Relativamente às armas colectivas, todas se baseavam no mesmo príncipio: armazenar energia em feixes de crinas de cavalo ou de tendões de animais fortemente retorcidos. Cada legião tinha dezenas de peças de artilharia. Individualmente:
Catapulta. Tratava-se de uma máquina ligeira que disparava pequenos dardos, com grande precisão. A catapulta é, muitas vezes, remetida para o ónagro (imagem seguinte) pela associação ao equipamento medieval.

Ónagro. Menos manobrável, de um só braço, para arremesso violento de pedras grandes.

Balista. A antecessora da besta medieval, mas em ponto grande e com dois braços independentes.

domingo, 7 de março de 2010

EXÉRCITO ROMANO (part.1), armamento defensivo


O primeiro post do blogue tinha que ser sobre o melhor exército que alguma vez existiu. Sem dúvida, a força de Roma. Nesta primeira parte pretendo, resumidamente, demonstrar o armamento defensivo desta força hegemónica (à época).


No tempo de Augusto o exército romano sofreu grandes evoluções a vários níveis, nomeadamente a protecção de cabeça. As primeiras legiões romanas estavam equipadas com um capacete do "tipo Montefortino" - simples protecções de crâneo encimada por um botão ou porta-plumas. Mas no tempo de Augusto surgiram capacetes do "tipo de Weisenau", que apresentavam um protecção de nuca, abertura para as orelhas (tornando o capacete mais confortável) e reforço frontal.



O capacete presente na imagem é o mais desenvolvido, ou seja, o "tipo Buggenum". Podem reparar na protecção de nuca bem desenvolvida e inclinada, para dissolver a força do golpe. Para suster os golpes de talho frontais, os romanos melhoraram o reforço frontal ao nível da testa, amortecendo os golpes, habitualmente letais. As paragnátides (protecção de bochecha) são outra grande evolução. Com o recorte semi-circular no bordo da frente, ao nível dos olhos e da boca, protegia-se a face e não se dificultava a respiração nem a visão. Embora não tão obvio nesta imagem, estes capacetes mais evoluídos tinham um botão cónico no topo e entalhes para reforço da protecção do crâneo.



Avancemos para as protecções de tronco ou Loricas. Esta primeira imagem representa a Lorica Hamata. Esta é bastante semelhante à cota de malha eternizada na era medieval. Consistia numa camisa de anéis de malha metálica entrelaçados. Era uma peça robusta e flexível, no entanto de confecção complexa. Para tornar esta protecção mais eficaz e confortável os romanos usavam a subermalis, uma veste de couro ou de tecido espesso.



A Lorica Squamata (ou loriga de escamas) chegou a Roma pelas mãos dos gregos, sendo oriunda do Médio Oriente. Esta é composta por pequenas placas metálicas fixadas numa base de couro, o resultado final remete-nos para escamas. Era bastante usada pois era de fabrico e reparação fácil, permitia grande mobilidade e tinha uma excelente relação qualidade-preço.



Para finalizar as protecções de tronco, Lorica Segmentata. Este é a imagem de marca do exército romano, a loriga articulada. Esta é uma peça especificamente romana e consistia em segmentos de finas chapas de metal sobrepostas, ligadas entre si por meio de correias e com placas de ombro articuladas. Pesava aproximadamente 10kg e apertava à frente e atrás. Devido à mobilidade oferecida por esta peça, os legionários podiam trabalhar na construção, junto a postos inimigos, com ela vestida aumento a protecção do militar. Quando despida, esta dobrava em concertina permitindo o armazenamento compacto.


Em relação às protecções de membros, os romanos não os protegiam de forma especial, pois assim limitavam a sua mobilidade. No entanto podemos destacar as grevas (protecções de canelas), pteryges (prolongamentos das protecções de tronco) e as famosas sandálias caligae, talhadas numa peça única de couro e atadas na canela.

Finalmente o scutum. O escudo utilizado no famoso Testudo era o rectangular que surgiu, provavelmente, no tempo de Augusto. As primeiras legiões romanas usavam um escudo oval. Mas é o rectangular que representa o expoente máximo da eficácia defensiva romana. Este era encurvado na base e no topo para facilitar o manejo da gládio e do punhal. Dispunha de muitos reforços metálicos e um umbo muito robusto. Estas peças podiam ostentar elementos decorativos, simbolos e inscrições (por exemplo, registo da coorte e da centúria a que pertencia o portador).