sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Henry Kissinger

Outrora Kissinger disse: "o que conta nos chefes de estado é a coragem, a astúcia e a força". Claramente realista, ele dizia que as emoções não servem para nada. Venceu o prémio Nobel da paz em conjunto com Le Duc Tho, embora este o tenha recusado. Viveu intensamente a guerra do Vietname, tendo sido um dos responsáveis pelo seu fim.

domingo, 23 de outubro de 2011

História, Russel e as vontades coletivas e individuais

A História é feita por todos ou por poucos? Depende das leis universais ou apenas de alguns indivíduos?
Bertrand Russel, à luz da conjuntura da Guerra Fria, dizia: «Deixa andar, o que acontece no mundo não depende de ti. Depende realmente do senhor Kruchtchev, do senhor Mao-Tsé-Tung, do senhor Foster Dulles. Se eles nos disserem: "morrei", nós morremos"; se nos disserem: "vivei", nós vivemos." Sábio!
Ao olhar para a sociedade dos nossos tempos, verificamos que a vontade individual sobrepõe-se à coletiva. Nós, o povo, gostamos da democracia. Teoricamente, temos representação no parlamento, não somos esquecidos. De facto, a única altura em que temos capacidade de decisão é nas urnas de voto. Escolhemos um indivíduo, ele encarregar-se-à de escolher o resto.

sábado, 22 de outubro de 2011

A morte e o Khadafi

Diz um provérbio árabe: "teme aqueles que têm medo de ti". Khadafi colheu o que semeou. Tratava o seu povo como uma plantação de escravos, destruiu a sociedade civil e implodiu com as estruturas soberanas. Chegaram ao fim os 42 anos de poder do auto-intitulado "Rei dos Reis de África".
O coronel Khadafi, que recusou ser general, morreu em Sirte, sua terra natal, sendo o seu leito da morte o mesmo do nascimento. No geral, foi melhor assim. Muitos cidadãos desejavam o seu julgamento. Aqui, residiam muitos problemas.
Onde seria julgado Khadafi, Líbia ou Haia? Ambas as opções levantavam problemas. No primeiro caso, convém lembrar que o ditador destruiu o sistema judicial líbio, pelo que era necessário reconstrui-lo em tempo recorde para permitir o julgamento. Se fosse conduzido para Haia, os receios seriam de outra natureza. Nos últimos anos, sabe-se que existiram relações próximas, e até certo ponto de afeto, entre o regime líbio e os serviços de informações de vários países ocidentais, assim como com várias companhias petrolíferas. Seria complicado se Khadafi revelasse, em pleno julgamento, detalhes que comprometessem os países ocidentais. O julgamento do ditador podia ser um tiro no pé para alguns desses países, principalmente na opinião pública.
Outro aspeto a considerar consistia na consistência das infraestruturas prisionais líbias. Sabe-se que a familia Khadafi tem meios financeiros e nutre amizade com alguns líderes mundiais, designadamente com Bouteflika da vizinha Argélia. Estes meios poderiam proporcionar, com recurso a mercenários, tentativas de libertação, assaltando a estrutura prisional e subornando os guardas.
A morte acabou por ser a solução mais simples. Falta Saif-Khadafi.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Amor à primeira vista: Entrevista com a História

Casualmente, tropecei numa feira de antiguidades. Alguns chamam-lhe de colecionismo. Reparei no livro "Entrevista com a História", de Oriana Fallaci. Sujo, mas bonito. Estava à minha espera, não tenho dúvidas. Lá dentro, uma riqueza incalculável que comprei com 1 euro emprestado.
No momento em que o tive na mão pela primeira vez, ainda desconhecendo o seu conteúdo, senti que a aplicação das palavras "entrevista" e "história" na capa, só podia significar qualidade. Henry Kissinger, Yasser Arafat, Indira Ghandi, Ali Bhutto, Willy Brandt, entre outros, esperavam por mim. Fallaci conduzia a conversa como ninguém. Viveu noutros tempos, onde os caracteres e a publicidade não se sobrepunham à qualidade do conteúdo.
O que me entristeceu foi reparar que não há respeito pelo conhecimento. O homem que me vendeu este pedaço de história desconhece, muito provavelmente, o sentido da Guerra Fria, quanto mais os nomes destas personagens. Mas o que me choca é sentir que este livro podia ser pisado e pontapeado sem que ninguém reparasse. Lá dentro estão pessoas que mudaram o mundo, respeito por favor.

sábado, 15 de outubro de 2011

Os Coptas e os infiltrados

Os tumultos verificados no Egito, confrontando cristãos coptas, muçulmanos e forças policiais, podem estar por explicar. É verdade que a minoria cristã, cerca de 10% da população, pode sentir pressão, mas os infiltrados do antigo regime de Mubarak também tiveram responsabilidades.
No Egito, vivem-se momentos de instabilidade. Diariamente surgem partidos políticos, criando um pluralismo desordenado que provoca dúvidas quanto à viabilidade da democracia. Estes protestos colocaram à prova a capacidade de resposta, dos militares no poder, perante a desordem pública. Falharam, logo está na hora de abandonar o poder.
Os cristãos coptas manifestam-se frequentemente, embora a violência nunca tenha sido uma arma recorrente. Esta característica levanta a primeira suspeita. Complementarmente, os relatórios da polícia revelaram que grande parte das vítimas mortais resultantes dos protestos foram atingidas por balas ou atropeladas por carros de combate. É preciso refletir para perceber o que justificou uma resposta tão dura por parte das forças de segurança.
A resposta imediata está associada à infiltração de indivíduos pró-Mubarak nas manifestações, que incitaram e amplificaram a violência. É necessário compreender o quadro na totalidade, percebendo as entrelinhas de forma a evitar condenações erradas, incitando, por consequência, mais violência.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Sharia moderada na Tunísia

Rachid Ghannouchi, membro do maior partido islâmico tunisino, considerou a hipotese de aplicar um modelo de "Sharia moderada" no país do norte de África.
Aplicar a Sharia num país altamente dependente do turismo não me parece uma boa ideia. Quando se fala neste modelo de lei, em muitos casos desprovido de direito, lembramo-nos, invariavelmente, do caso afegão. Ahmed Rashid, jornalista paquistanês, relatou vários casos de violação dos direitos humanos, resultantes da aplicação da Sharia. Evidentemente que no caso afegão, aquando dos talibans no poder, estamos a falar de um regime islâmico radical, coisa que a Tunísia não é. No entanto, depois da experiência talibã, o nome Sharia pode assustar os turistas. Irá a Tunísia proibir o consumo de álcool?
Por outro lado, o investimento estrangeiro também pode sofrer consequências. O capital ocidental irá levantar muitas questões, nomeadamente sobre o enquadramento jurídico em matéria económica. Depois da revolução, é necessário captar investidores. Desconfio que a Sharia possa atrapalhar.
Para responder a estas dúvidas é essencial definir o conceito de "Sharia moderada".